domingo, 3 de novembro de 2013

Coral invasor ameaça biodiversidade da Baía de Todos os Santos

Com capacidade de reprodução três vezes maior que as espécies nativas, o coral-sol poderá causar sérios problemas econômicos na região do Recôncavo.


Uma ameaça, no fundo da Baía de Todos os Santos, põe em risco a biodiversidade nos recifes de corais. É o coral-sol (Tubastrea tagusensis e Tubastrea coccinea), uma espécie de coral trazido da Ásia, nos anos 1980, que há dois anos tem se proliferado nas águas Baía.

Cnidários
O animal, um cnidário, se reproduz de forma assexuada, provoca a extinção dos corais nativos e pode reduzir, em longo prazo, a oferta do pescado na região.

Essa espécie de coral possui três vezes mais capacidade de se reproduzir do que as espécies nativas e, segundo especialistas, se não combatida com urgência, causará impacto nas economias de pelo menos cinco cidades do Recôncavo com Salvador, Itaparica, Vera Cruz, Salinas das Margaridas e Maragogipe.

Localizado pela primeira vez na Bahia, em 2008, no naufrágio Cavo Artemidi, o coral-sol vem se proliferando no recife natural conhecido como "Cascos", sedimentado a 20 metros de profundidade na costa leste da Ilha de Itaparica (Grande Salvador), a 12 km da capital, via mar.

Nos recifes artificiais, o coral-sol já foi encontrado também na marina de Itaparica e nas plataformas da Petrobrás, no estuário do Rio Paraguaçu, onde fica a Reserva Extrativista Marinha do Iguape.

Pesquisa

Autor do projeto "Corais da Baía", o mestrando em Ecologia e Biomonitoramento pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, Ricardo Miranda, 25, tem pesquisado formas de combater o coral-sol, cuja característica é suprimir as espécies nativas quimicamente.

Ricardo e o monitor de recifes de coral da ONG Pró-mar, José Carlos Barbosa, 49, foram os primeiros a detectar a presença de centenas de colônias do coral-sol no recife natural dos Cascos, no final de 2011.

"O que pode acontecer é a evasão de espécies marinhas dos corais, já que o coral-sol, além de não servir de comida, também come os plânctons que as alimentam", explica o biólogo, sobre os efeitos na cadeia alimentar.
Plânctons

Como parte da pesquisa, financiada pela instituição inglesa de conservação ambiental Ruffur Foundation, a equipe do Projeto Corais da Baía tem feito experimentos para combater o coral-sol.

Em um deles, detectou que o coral Montastraea cavernosa desenvolveu uma estratégia de contra-ataque ao coral-sol. No outro, identificou o verme-marinho poliqueta-de-fogo (Hermodice curunculata) como um predador natural do invasor.

"Temos que ampliar os estudos, porque não podemos simplesmente aumentar o número de vermes sem saber as consequências", explica ele, cujo projeto será concluído em agosto de 2014.

Remoção manual


Monitor de recifes da ONG Pró-mar, José Carlos Barbosa, trabalha na remoção de colônias.
Enquanto as pesquisas continuam em andamento, a remoção das colônias de coral-sol têm sido feita pelas ONGs de forma artesanal, com marretas e talhadeiras.

"O coral-sol não é apenas um bioinvasor, é uma praga", observa o presidente da Pró-mar, José Pinto, 49, o Zé Pescador, cujo trabalho consiste em educar pescadores para a conservação da biodiversidade marinha.Ele alerta que a retirada das colônias invasoras requer treinamento, sob o risco de o coral-sol espalhar novas larvas, caso seja removido de maneira errada. "Nasce sobre qualquer superfície: ostras, metal, concreto, fibra de vidro e até na lama", enumera, temeroso de que o coral-sol se prolifere nos manguezais.

Fonte: Jornal A Tarde