quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Área do Pantanal atingida por incêndios pode levar até 50 anos para se regenerar

 

Já foram tantos os focos de incêndio no Pantanal, que já corresponde ao que foi queimado, no local, nos últimos seis anos, 2014 a 2019. Destruição exagerada do maior bioma úmido do mundo. Só no Brasil, o Pantanal ocupa uma área de 150.000 Km2, dos quais já foram perdidos cerca de 19% para as queimadas, destruindo aproximadamente 95% de vegetação nativa.

Baseado em estudos recentes, é bem provável que a regeneração da região leve até 50 anos para acontecer e se a intensidade dos incêndios for maior e mais durável a recuperação poderá levar bem mais tempo.

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Professora e pesquisadora especialista em ecologia da vegetação de áreas úmidas fala sobre a perspectiva para o futuro do bioma.

Redação

Com Estadão Conteúdo

Mayke Toscano/Secom-MT

fogo no pantanal 1.jpg

 

Considerado o maior bioma úmido do mundo, o Pantanal soma 150 mil km² em território brasileiro. Está localizado nos Estados de Mato Grosso (35%) e Mato Grosso do Sul (65%), além de partes do norte do Paraguai e do leste da Bolívia, que somadas podem atingir cerca de 250 mil km². Segundo o Instituto Centro de Vida (ICV), o Pantanal já perdeu 19% de sua área para as queimadas.

 

Ainda conforme o ICV, e com base em dados da plataforma Global Fire Emissions Database, da Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, 95% dos focos de calor deste ano estão incidindo em áreas de vegetação nativa.

 

O número de focos de incêndio registrados no Pantanal de janeiro a agosto equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019, segundo levantamento do Estadão a partir de dados do Inpe. De 1.º de janeiro a 31 de agosto deste ano, foram registrados pelos satélites do instituto um total de 10.153 focos de incêndio na região. Se comparado com o ano passado, o número já é três vezes maior. Só nos 20 primeiros dias de setembro foram mais 5.900 focos de incêndios.

 

IEA-USP

Professora Cátia Nunes da Cunha

Professora Cátia Nunes da Cunha tem pós-doutorado em ecologia da vegetação de áreas úmidas

O Estadão conversou com a professora Cátia Nunes da Cunha, que fez pós-doutorado em ecologia da vegetação de áreas úmidas pelo Instituto Max-Planck da Alemanha e é pesquisadora associada do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (PPG-ECB/IB-UFMT). Cátia Nunes da Cunha também é pesquisadora associada do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU) e pesquisadora associada do Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP). Ela também coordenou o Núcleo de Estudos Ecológicos do Pantanal (NEPA) da UFMT, por 25 anos.

 

Quais os prejuízos para a biodiversidade do Pantanal, já que os incêndios interrompem ciclos naturais que envolvem fauna e flora da região?

 

Não é um fogo normal, é um incêndio. Quando o fogo fica fora do controle e se torna incêndio, significa que a temperatura atinge níveis tão altos que ele calcina, ou seja, torra as plantas que se tornam pó. É uma situação nova, inclusive, para pesquisadores Não registramos nada dessa intensidade ao longo de nossas pesquisas dentro do Pantanal. Tenho informação de fogo dentro da região, mas de forma mais branda. Por exemplo, quando analisamos o banco de sementes, estava lá perfeito, quer dizer que tinha capacidade de se regenerar. Agora, em uma situação de incêndios no momento atual, ainda não temos dados para que possamos avaliar o dano total à região. O que podemos dizer é, com base na experiência e de conhecimento adquiridos ao longo de anos no Pantanal. Além disso, é preciso aguardar e ver como será a resposta da natureza, associada às condições climáticas, com presença de chuvas ou não.

 

Além dos incêndios que estão se alastrando, o ano não começou bem para o Pantanal. O desmatamento está cada vez mais acelerado. O Rio Paraguai, principal formador do Pantanal, chegou a 2,10 metros em junho, mês marcado por apontar o pico ao longo do ano, o menor nível em quase 50 anos. A chuva também foi escassa na região. Qual deve ser o cenário mais provável para o Pantanal nos próximos anos com base em estudos sobre o bioma?

 

"A regeneração, baseada nos resultados adquiridos, acreditamos que levará em torno de 50 anos. Caso a intensidade do incêndio seja mais grave, poderá levar mais tempo"

Um dos cenários nos leva na direção de que, em breve, teremos os efeitos da La Niña no Brasil, que já entrou em atividade (fenômeno climático que provoca o resfriamento da superfície das águas do Oceano Pacífico). Até chegar ao Pantanal demora mais, mas suponho que teremos períodos futuros secos. É uma possibilidade. É possível ainda ter a paisagem do Pantanal, como as pessoas dizem 'começando a rebrotar', mas isso é visão de olhar só para o verde na natureza, mas podem estar nascendo ali simplesmente espécies não desejáveis, espécies daninhas resistentes ao fogo, no lugar de capim e plantas nativas. Uma situação não favorável. Divido o Pantanal em função de sua flora, porque é um centro que converge vários elementos: elementos do bioma da Amazônia, do Cerrado do bioma Chaquenho e também da floresta tropical seca. Estamos no meio, onde esses conjuntos se encontram formando o grande mosaico que é o Pantanal. Só de plantas, são em torno de 2 mil espécies no Pantanal, entre árvores, herbáceas, plantas tipicamente aquáticas, arbustos e palmeiras.

 

Há diferenças na recuperação pelo tipo de solo e de vegetação. O Cerrado, por exemplo, se recupera mais rapidamente que a Amazônia. O que prever para a recuperação do Pantanal?

 

No Pantanal, a recuperação varia de acordo com as características de cada macrohabitat. Há macrohabitats com predominância de espécies do domínio do Cerrado, onde campos apresentam gramíneas com folhagens duras como são consideradas pelos fazendeiros por causa do alto teor de lignina e com seus sistemas de rizomas subterrâneos conseguem ser resistentes ao fogo. As árvores têm estratégias de proteção, cascas grossas e uma série de situações adaptativas. Nesse tipo de ambiente, vejo regeneração natural bastante promissora.

 

Chico Ribeiro - Secom/MT

incêndio no Pantanal

 

E para as outras áreas?

 

Entretanto, áreas que passam constantemente por incêndios têm perda na composição, na estrutura da vegetação e, consequentemente, também significa perda de habitats para os animais. A vegetação serve de abrigo/refúgio para eles, onde escolhem seu local de preferência dentro desse mosaico. Se tivermos cada ano uma chuva facilitadora, sem incêndios, acredito que em cerca de 30 anos é possível restaurar, como já observei em outros momentos e áreas que acompanhamos dentro do Pantanal. Mas pulando para outro conjunto de flora, as matas ciliares e floresta inundável, isso muda. Essas florestas têm baixa resiliência quanto a incêndios. Para essa vegetação serão necessárias avaliações mais detalhadas. Durante esses quase 50 anos em que o Pantanal não teve fogo dessa magnitude, nas áreas que acompanhamos, só agora, observamos o aparecimento de orquídeas, que antigamente existiam em abundância. Mas há evidências que estavam se regenerando, desde 1974, com o ciclo plurianual mais úmido. A regeneração, baseada nos resultados adquiridos, acreditamos que levará em torno de 50 anos. Caso a intensidade do incêndio seja mais grave, poderá levar mais tempo.

 

Como se dá a recuperação do local?

 

A recuperação natural age como um processo integrado no âmbito do ecossistema. Todas as interações envolvendo plantas e animais são preciosas para a recuperação. Cada espécie de planta tem um lugar preferencial no gradiente de inundação. Até a natureza acomodar tudo novamente, leva tempo, a recuperação ocorre aos poucos, lentamente e depende das condições de sazonalidade da inundação.

 

O que mais preocupa no Pantanal?

 

São as florestas secas. Por serem mais relictuais (espécie que atualmente é encontrada em uma área restrita, mas que no passado era distribuída em abundância) tiveram sua expansão na América do Sul nos períodos geológicos mais secos e entraram também no Pantanal. Suportam seca, mas não têm tanta habilidade para resistir a incêndios. Em programas de estudos ecológicos de longa duração, mantemos remedições. A inclusão de novos regenerantes sempre foi animadora. Indivíduos jovens de espécies tardias demonstravam a recuperação dos efeitos das atividades extrativistas de incêndios antigos. Em sobrevoo, constatamos a gravidade provocada pelo incêndio. Esse tipo de floresta tem relação com uma fauna muito específica, de mamíferos e aves, inclusive.

 

E quanto às plantas?

 

"Uma ação conjunta entre ciência, proprietários, gestores ambientais estaduais e federais e ONGs poderá criar a compreensão de um manejo adequado das áreas sob perspectivas da restauração e manutenção da biodiversidade."

Há araputangas, angicos, paineiras, cedros... Com o incêndio, não sei em que estágio da sucessão natural voltarão. Ainda não avaliamos o que aconteceu realmente para podermos traçar o tempo da recuperação. Essa formação vegetal é parte da diversidade do Pantanal e ocupa os macrohabitats sem inundação, mas com solo apresentando saturação pelas chuvas. Hoje é de grande significado ecológico, já teve seu valor econômico, mas foi explorada até o esgotamento no passado. O Pantanal, além de ser de área úmida, apresenta característica complexa, onde o conjunto de manchas, de habitats e diferentes tipos de vegetação dá condições para uma fauna singular. Temos um trabalho intenso pela frente para estimar todas as perdas com os incêndios.

 

Quais ações devem ser tomadas também pelos fazendeiros?

 

A pecuária do Pantanal teve sucesso por causa dos campos nativos, os inundáveis têm alta qualidade nutricional e boa palatabilidade, tornando-se possível a criação de gado. Esta vegetação, porém, não é adaptada a fogo intenso. Este tipo de macrohabitat me preocupa, pois carece de normatização do seu uso, onde a forma tradicional de manejo deve ser o ponto de partida para promover o uso sustentável. Há necessidade de restauração destes campos com processo de proliferação de lenhosas. Com anos mais secos se desenhando em cenários futuros e com a presença de fogo, sem dúvida, haverá mais dificuldade na restauração. E isso aumenta a responsabilidade dos proprietários rurais em atuar com manejo adequado para manter esta formação vegetal ímpar. Uma ação conjunta entre ciência, proprietários, gestores ambientais estaduais e federais e ONGs poderá criar a compreensão de um manejo adequado das áreas sob perspectivas da restauração e manutenção da biodiversidade. Com abordagem fundamentada no uso tradicional, aliando a técnicas modernas de manejo sustentável, será fundamental para sensibilizar os novos pantaneiros.

 

Em Poconé (MT), o Pantanal virou cemitério de animais a céu aberto, com diversos deles carbonizados e feridos. Como os incêndios afetam a fauna da região? Ainda não se pode contabilizar quantas espécies foram afetadas, mas há risco de diminuição ou mesmo extinção de animais?

 

O Pantanal não tem fauna específica e endêmica. Reúne animais de vários biomas, igual à situação das plantas. Há populações de animais de outras áreas do Brasil e, inclusive, os considerados ameaçados. Até agora as populações desses animais estavam se recuperando. Programas de conservação de organizações não governamentais realizam projeto de recuperação, por exemplo, envolvendo a arara-azul, que no Pantanal encontra oferta de alimentos preferências e locais para sua nidificação. Outro exemplo de recuperação populacional e que é atrativo do turismo no Pantanal é a onça-pintada. As populações de animais que conseguiram sair da categoria de ameaçadas, hoje podem estar comprometidas novamente por causa dos incêndios. O tuiuiú, um dos animais símbolos do bioma, também foi uma espécie de ave afetada pelos incêndios, com seus ninhos dizimados.

 

Mayke Toscano/Secom-MT

Tuiuiú no Pantanal

 

O que se pode fazer em relação a isso?

 

Os especialistas da fauna silvestre acreditam que os animais mais velhos com mais experiência em relação a eventos do fogo conseguiram sobreviver. Evidências indicam que os incêndios têm afetado indivíduos mais jovens, com tudo isso, uma geração de animais está comprometida. A grande preocupação é que, sem água e recursos para se alimentarem, a situação é ainda mais grave para espécies que o Pantanal contribui para evitar a sua extinção. Há iniciativas de pesquisadores de diversas instituições de pesquisa regional, incluindo ONGs, empenhadas na avaliação do que foi perdido. Essa informação é fundamental para a tomada de decisão.

 

E em relação a prejuízos para ambientes aquáticos?

 

Todas as cinzas produzidas pelos incêndios são nutrientes, mas quando carregadas para os rios e lagoas, em grandes quantidades, causam o fenômeno conhecido na região por 'dequada', porque as cinzas alteram a qualidade da água, desequilibram o ecossistema aquático e causam mortalidade, principalmente dos peixes, anfíbios e invertebrados aquáticos.

 

A destruição do Pantanal pode trazer desequilíbrios a outros biomas do Brasil?

 

Não só aos biomas brasileiros, mas para todo o planeta. Com esse incêndio, estamos produzindo gases que contribuem com o efeito estufa. Liberamos, com os incêndios, o estoque de carbono tanto em forma de matéria orgânica acumulada (turfas tropicais) quanto da vegetação. A saúde da população que vive nesta região está sendo comprometida, agravando o quadro de quem tem doenças asmáticas e alérgicas. O que se torna mais grave em um momento em que também lidamos com a covid-19.

 

As ações adotadas pelas autoridades foram tardias no combate ao fogo?

 

As próprias autoridades hoje reconhecem que o Brasil agiu tardiamente para entender a gravidade da situação no Pantanal. Mesmo com a inteligência técnica científica brasileira alertando para o aumento dos focos de calor,de desmatamento e previsão das condições climáticas, o governo brasileiro ignorou esses alertas Devemos reconhecer o papel do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (o ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente responsável pelas unidades de conservação), da sociedade civil organizada e de ONGs atuando ao lado dos bombeiros que trabalham juntos incansavelmente no combate ao fogo e no resgate de animais feridos. Muitas ONGs buscaram recursos. Com eles, adquiriram equipamentos, remédios e alimentos para os animais, entre outras ações. Dá para acreditar que até um leilão de quadros fizeram para buscar recursos para melhorar o atendimento emergencial para a fauna. Essas iniciativas precisaram surgir para ocupar o espaço deixado pela ausência de ações de competência dos governos (federal, estadual e municipal), caso contrário, o desastre seria mais grave.

 

O Brasil estava preparado para lidar com essa situação?

 

"A avaliação técnica da perícia mostrou que a origem do fogo é antrópica, ligada ao homem. Neste sentido, avalio que as autoridades competentes devem agir no rigor da lei. Os responsáveis precisam ser punidos."

Muitas ONGs atuam na linha de frente, no combate ao fogo e resgate dos animais, e outras reforçam, em âmbito nacional, a necessidade de uma infraestrutura, de planejamento estratégico para o Brasil poder atender emergências no combate ao incêndio no Pantanal e outros desastres. O Brasil não está preparado ainda para lidar com a situação. Foi clara a demonstração dos efeitos negativos que os desmanches das instituições da área ambiental e da inteligência técnica nacional de alertas provocaram ao Pantanal.

 

Investigação da Polícia Federal vê indícios de queimadas deliberadas para criação de área de pasto onde antes era mata nativa. As queimadas teriam começado em fazendas da região, em espaços inóspitos, dentro das fazendas, onde não há nada perto. Quais são as possíveis origens do fogo? Quem são os responsáveis pelo Pantanal em chamas?

 

A avaliação técnica da perícia mostrou que a origem do fogo é antrópica, ligada ao homem. Neste sentido, avalio que as autoridades competentes devem agir no rigor da lei. Os responsáveis precisam ser punidos.

 

Mayke Toscano/Secom-MT

Pôr do sol no Pantanal

 

Quais ações devem ser tomadas para combater e evitar queimadas tão devastadoras no Pantanal?

 

O Brasil deve usar toda sua excelência de infraestrutura de monitoramento para realizar planejamento estratégico para controlar tragédias de fogo ou inundações. A fiscalização e punição também devem ser mais efetivas contra os incêndios no Pantanal. Além disso, a população local e o homem pantaneiro precisam ser treinados sobre o manejo correto do fogo. O Brasil deve preparar a sociedade, em especial aquelas pessoas que têm relação com o fogo, para fazer uso correto. É papel do Estado investir em educação, conscientização e respeito ao Pantanal. Em meio ao turista engajado, sabe-se também que há aquelas pessoas que não respeitam, podendo atirar em animais, e que sujam e colocam fogo na natureza.

 

Fonte: pnbonline

domingo, 20 de setembro de 2020

21 DE SETEMBRO, DIA DA ÁRVORE

 


Queimadas, incêndios... não importa a denominação. Importa, sim, a destruição. Hectares e mais hectares devastados. A flora pede socorro, não consegue se livrar de um mal provocado pelo maior predador do planeta. Aquele que, em nome da ganância, acredita ser o dono das decisões da Natureza e sai, em meio ao ambiente, delapidando o pouco verde que ainda resta.

Dia da árvore. Será que a Natureza tem o que comemorar? Será que nós, humanos predadores, podemos comemorar esse dia, já que nada é feito para minorar o que já está consolidado? De acordo com a nossa última postagem é possível concluir que não existe interesse do poder público em solucionar o problema. E a complicação é mundial. Claro que no Brasil está tudo saindo de controle, ou já saiu mesmo. 
A Mata Atlântica, por exemplo, um bioma de floresta tropical, que já predominou em grande parte da América do Sul, e no Brasil, ocupando territórios desde a Região Nordeste até a Região Sul e parte da Região Centro-oeste, hoje está reduzida a fragmentos.

O Cerrado é mais um bioma ameaçado. Abrange vários estados brasileiros, desde a Região Nordeste até parte da Região Sul. Estende-se por cerca de 2,0 milhões de Km2. Com a queimadas criminosas na região, o Cerrado é mais um bioma que pede socorro e nada está sendo feito para aliviar a pressão sofrida, no local pela Natureza.

A Amazônia é uma floresta tropical, extremamente úmida, que cobre grande parte da bacia amazônica, na América do Sul, com cerca de 5,0 milhões de Km2, sua maioria concentrada no território brasileiro num total de 60%. Nela encontra-se o rio Amazonas, o mais longo e caudaloso do mundo, de acordo com pesquisas recentes. A partir de 1960, com maior introdução humana na região, teve início o desmatamento para a preparação do solo para a agricultura e a pecuária. Resultado: desmatamento sem controle. A Amazônia é considerada o ar condicionado do mundo. Lá são formados os rios voadores, que servem para levar umidade e oxigênio para outras regiões da América do Sul. Porém tanto quanto o Cerrado e a Mata Atlântica, a Amazônia vem sendo devastada por queimadas e derrubadas de árvores nativas seculares.

O Dia da Árvore deveria ser sempre um momento de reflexão para a humanidade, entretanto, no cotidiano, o ser humano parece estar esquecendo que o planeta Terra é uma célula viva e, como toda célula, precisa de um bom tratamento para que sobreviva. Não temos um médico fora do planeta (ao menos não sabemos ter) para realizar o que é necessário para curar esse “câncer”, o maior predador, que o está destruindo. O planeta clama por socorro e, aos poucos, está revidando os maus tratos que vem sofrendo. O aquecimento global, as alterações climáticas, são os avisos de que a Natureza vai dar o jeito dela.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O PANTANAL E AS QUEIMADAS

  


A queimada é uma prática primitiva, utilizada por agricultores, com o objetivo de limpar a terra para o plantio, ou dos pecuaristas, para a formação de pasto. Esse modo de agir pode ser de forma controlada, porém, se descontrolado, causa incêndios nas florestas e em grandes espaços de terra. Os danos mais importantes das queimadas estão na destruição da fina camada da matéria orgânica, situada na superfície dos terrenos, que possuem cerca de 30 a 40 cm de espessura.

Durante 12.000 anos de queimadas realizadas pelos índios – consideradas nocivas por alguns estudiosos –, na Amazônia, não destruíram. Na realidade mantiveram o equilíbrio natural. Porém a partir do ano de 1.500, a cultura europeia de queimadas para preparar a terra para a agricultura, passa a destruir a flora e, por conseguinte, a fauna é extremamente prejudicada. Esse tipo de ação, aliada ao cultivo da monocultura, acabou por aniquilar muitas espécies nativas.

O maior incêndio

As queimadas no Pantanal, entre os estados de Mato Grosso de Mato Grosso do Sul, são consideradas o maior incêndio da região. Somente este ano, de janeiro até agora, mês de setembro, 2,9 milhões de hectares já foram queimados, de acordo com o Centro Nacional de Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo). De acordo com Instituto SOS Pantanal, isso representa, aproximadamente, 19% do bioma no Brasil.  

O instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já registrou cerca de 15,4 mil focos de calor, ou seja, possibilidades de incêndios no Pantanal. Desde 1999, quando teve início as análises, esse é considerado o maior número já contabilizado. Estima-se que leve cerca de 30 a 40 anos para que o bioma se recupere.

Esses incêndios podem causar sérios problemas à vida em geral. Impossível estimar a quantidade de animais mortos e a cada dia aumenta a quantidade, seja devido a fome, desidratação, desnutrição, aspiração de fumaça e infecções causadas pelas queimaduras. As populações humanas também acabam sendo prejudicadas, com problemas respiratórios. Populações ribeirinhas foram levadas ao êxodo.

70% das palmeiras de acuri e bocaiúva, utilizadas pelas araras azuis, para alimentação e construção dos seus ninhos, já foram destruídas pelo fogo. A arara azul e a onça pintada são bastante ameaçadas junto com a maioria da população silvestre local.           

Já é constatado que as queimadas foram ocasionadas pela ação humana proposital. A Delegacia do Meio Ambiente está à procura dos responsáveis.

Ministro cancela combate

O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cancelou o combate às queimadas na Amazônia e no Pantanal alegando corte de R$ 60,7 milhões que seriam destinados a Ongs de preservação do meio ambiente e mais R$ 120 milhões que vão ser cortados do orçamento da pasta para 2021. Com isso, apenas voluntários lutam para tentar conter as chamas, que aumentam a cada dia, e criaram um posto de atendimento a animais silvestres e distribuindo alimentos e água às margens da rodovia Transpantaneira. Além disso procuram pontos de água onde os animais ameaçados posam buscar abrigo.

O fogo teve início em propriedades particulares, protegidas por lei, porém se alastrou até territórios de reservas indígenas.

Inércia e descaso

O que se vê é uma exagerada destruição do meio ambiente e a inércia do poder público para dar um fim ao problema. Até as Ongs estão sem condições de atuar, pela falta de incentivos do Governo Federal, com cortes de verbas e notoriamente seu profundo desinteresse em solucionar um problema que chega ao ponto de tornar-se totalmente fora de controle.

As Queimadas e os Rios Voadores

Um dos maiores causadores do exagerado incêndio no Pantanal está a quilômetros de distância. O problema começa na Região Norte, na Amazônia. Tempos atrás publicamos neste blog um artigo sobre os Rios Voadores. Eles são os responsáveis pela umidade que chega às regiões Centro-oeste, Sudeste e Sul. Os ventos alísios, que sopram do Oceano Atlântico e são barrados na Cordilheira dos Andes e formam um ciclo que impulsiona a umidade da floresta para essas regiões. Quando isso não acontece, devido aos desmatamentos e incêndios, também, na Amazônia, esse ciclo é interrompido e a umidade da floresta não chega a essas regiões, causando a secura, com redução das chuvas e da umidade no Pantanal, provocando esses incêndios de grandes proporções como que vemos nos últimos meses.

Ano atípico

As alterações climáticas têm grande participação nesse fenômeno, dizem os analistas ambientais. 2020 é considerado um ano atípico: as chuvas estão abaixo da média e as temperaturas muito acima, o que altera significativamente as vazantes e cheias do Pantanal. A última vez que houve grande seca no Pantanal foi em 1970.  A cheia desse ano é uma das menores desde lá, o que possibilita a ocorrência de grandes incêndios em florestas.

Especialistas são unânimes em afirmar que todos os incêndios no bioma Pantanal, este ano, foram causados pela ação humana. Descartaram os provocados por descargas elétricas, pelo simples fado de não ter chovido na região nos últimos meses.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Aquecimento global vai elevar o nível do mar em até 1 metro em 8 décadas, aponta relatório do IPCC



Embarcação navega entre pedaços de degelo no mar do ártico — Foto: Christian Aslund/Greenpeace/Divulgação
  
Autoridades mundiais ainda não chegaram a um nível de consciência construtivo sobre o aquecimento global. O resultado é uma previsão nada acalentadora para os próximos 80 anos.

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Aquecimento global vai elevar o nível do mar em até 1 metro em 8 décadas, aponta relatório do IPCC


Documento é uma análise de estudos científicos que avaliam como as mudanças climáticas podem afetar o ecossistema marítimo e criosfera – toda a água congelada do planeta. As publicações mais recentes são de maio de 2019.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão ligado à ONU, divulgou nesta quarta-feira (25) um novo relatório que analisa e compila as descobertas científicas mais recentes sobre a mudança climática, o oceano e a criosfera – água em estado sólido, como geleiras.

O documento do IPCC foi organizado para apresentar cenários sobre como o aquecimento global pode afetar o oceano, as calotas polares e as áreas congeladas em montanhas. O relatório contou com a coordenação de mais de 100 especialistas de 30 países, sendo a maioria de países em desenvolvimento. 

Foto de arquivo mostra uma vista aérea de grandes icebergs flutuando enquanto o sol nasce perto de Kulusuk, na Groenlândia. A Groenlândia está derretendo mais rapidamente na última década e, neste verão, viu dois dos maiores derretimentos já registrados desde 2012. — Foto: Felipe Dana/AP


O texto trata de quatro temas principais ligados ao aquecimento global e o degelo: aumento no nível do mar, mudança dos ecossistemas marítimos, redução do permafrost – o solo que passa todo o ano congelado, na Rússia, Canadá e Alasca – e ondas de calor no mar. 

O documento analisa uma série de estudos científicos publicados até maio de 2019, que comprovam que os níveis do mar estão subindo.
Destaques do relatório do IPCC:

Área em que houve derretimento da camada de permafrost, na península de Yamal, Rússia — Foto: Steve Morgan/Greenpeace/Divulgação
 
  • Até o ano 2100, se nada for feito, o aumento do nível do mar pode alcançar até um metro de altura; isso pode acarretar a retirada de milhões de moradores de áreas costeiras e ilhas.
  • Com o aquecimento da água, oceanos se tornarão mais ácidos, alterando a vida marinha; ainda que se limite o aquecimento a 1,5°C, os recifes de coral já estão quase todos condenados.
  • O degelo do permafrost vai liberar mais de 1,5 mil gigatoneladas de gases de efeito estufa – isso é quase o dobro do carbono que atualmente está na atmosfera.
  • Até o final deste século, a frequência de ondas de calor marinhas pode aumentar em 50 vezes, chegando a uma variação de 3℃ ou 4℃.

Aumento do nível do mar

O nível do mar deve aumentar em até um metro nos próximos 80 anos, caso nada seja feito, alerta o IPCC. De acordo com esses especialistas, há uma tendência de elevação do nível do mar que não era observada em séculos passados. Atualmente, diz o relatório, há variação nos níveis em uma taxa anual.
Esse aumento poderá causar estragos, segundo o painel, em áreas mais expostas, como as regiões costeiras e as ilhas. Isso por conta do derretimento da calota polar ártica. Há também a previsão de aumento nas incidências de ciclones e tempestades em zonas tropicais. 

Os cientistas também projetam uma mudança nas marés que podem ampliar os efeitos dessa mudança nos níveis do mar. Há mais risco para os moradores de áreas costeiras já a partir de 2050, caso não haja atitude de governos para conter o aquecimento global

De acordo com Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos EUA, o nível do mar está hoje 8 centímetros acima da média observada em 1993. Segundo essa agência, desde 2011 se observou um aumento consecutivo nos níveis registrados.

Impactos nos ecossistemas

A mudança na criosfera impacta a vida de espécies que dependem da água doce, diz o relatório. O derretimento de coberturas de gelo alterou a dinâmica e o funcionamento de ecossistemas em algumas regiões do mundo.

Os cientistas apontaram para um aumento nas taxas de queimadas em zonas que antes eram ocupadas pelo permafrost, assim como notaram uma transformação na vida do ártico, com momentos mais quentes. Tudo isso altera a dinâmica natural da vegetação. 

O aquecimento global também mudou os ecossistemas costeiros, alerta o estudo. Com a variação climática, há maior acidificação da água (diminuição do pH), há menos oxigênio disponível e aumento da salinidade das águas.

Os impactos já podem ser observados nos habitats marinhos, como é o caso dos recifes de coral.

Segundo o estudo, ainda que se mantenha controlado o aquecimento global para baixo de 1,5°C, 90% das espécies já estão condenadas.

Por que cuidar da criosfera?

O relatório destaca a importância do oceano e da criosfera para a vida na Terra. Juntas, elas cobrem quase 80% da superfície do planeta. De acordo com os especialistas, elas exercem funções fundamentais para o controle das emissões na atmosfera. Mas, por conta dos efeitos do aquecimento global, chegarão a limites sem volta. 

Nas últimas décadas, o aquecimento global reduziu a criosfera e, com a diminuição da cobertura congelada do solo, houve um aumento da temperatura do solo. Isso impede a renovação dessa cobertura.

De acordo com imagens de satélite estudadas pelos cientistas do painel, a cobertura de gelo no ártico atingiu níveis históricos de redução, chegando a cobrir 2,1 milhões de km².

Próximo relatório e reuniões

Esse é o segundo relatório do IPCC neste ano. Em agosto, o painel publicou uma análise sobre como o aquecimento global pode reduzir safras e lançou um alerta para a conservação de florestas tropicais. 

Em novembro, acontece no Chile a 25ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas. O Brasil havia sido cotado para sediar o evento, mas o governo brasileiro desistiu.

Matéria transcrita do G1

Por Márcio Vieira - Reg. 4430