Especulou-se muito antes, durante e depois do carnaval desse ano, sobre o burburinho em que se transformou a utilização do tema "lobo mau" como canção carnavalesca. Cantores decidiram não interpretar a música por acreditar tratar-se de atentado ao pudor infantil. Em outras palavras: incentivo à pedofilia.
Necessário se faz observar que a historinha, a fábula do "Lobo Mau" – de autoria do francês Charles Perrault (1628/1703), considerado o Pai da Literatura Infantil por ter sido o primeiro escritor a dar tratamento especial a esse tipo de literatura: o "conto de fadas" – nunca, em qualquer época, foi vista de forma despudorada, pelo contrário, povoou o imaginário infantil desde que foi criada, há mais de três séculos. Contada para os pais de nossos pais, que contaram para os nossos pais, que contaram para nós, que nós contamos para os nossos filhos e que nossos filhos contam ou contarão para os nossos netos e assim a vida vai.
Agora vêm pessoas, muitas que nunca foram santas, ou seja, que ganharam a vida e fizeram sucesso requebrando, se mostrando de corpo nu, na rua, para serem fotografadas para revista masculina, outros que nem atrativos têm para tanto e se recusam a cantar uma inocente canção, acusando o seu conteúdo de possuir incentivos à pedofilia. Talvez seja pelo fato de haver tanta denúncia de atentados do gênero em todos os segmentos da sociedade, inclusive os religiosos.
Agora, o que dizer das letras das músicas de pagode locais, que humilham a mulher de todas as formas possíveis; chamando-as de cachorras e... chegam a pedir a patinha. Essa é a mais leve, pois são cantadas coisas piores e de duplo sentido como a "Relaxe na bica", "Toda enfiada" ou coisa pior. Pior ainda é ver muitas "delas" darem as patinhas e pintarem patinhas nas unhas. É de doer.
O mestre João Gilberto cantou "Lobo Bobo" – que Ivete Sangalo lembrou com muita propriedade no carnaval – e nunca foi criticado por dizer que Chapeuzinho Vermelho levava "um lobo na coleira que não janta nunca mais" e nem deveria ser, afinal que mal há nisso? Só mesmo para as cabeças imundas poderia haver maldade numa canção como essa. Claro que tudo depende da interpretação de cada um, mas não cheguemos ao exagero.
O grande problema é a falsa moral que atormenta alguns que não conseguem se desvencilhar de uma educação tacanha, não conseguindo se conter ao lembrar-se, talvez, de coisas das quais gostariam de esquecer definitivamente, mas que as atormentam incessantemente, fazendo com que os lobos do passado venham à tona.
Vamos lá minha gente, o Lobo Mau da fábula jamais conseguiu fazer mal a alguém. Nem à vovó, que foi comida, mas devolvida sob a ação dos caçadores. Ele é fruto da imaginação fértil de alguém que quis apena entreter. Da mesma forma que João Gilberto, ao cantar o Lobo Bobo, desejou apenas nos contemplar com uma canção fabulosa. E Ivete, da mesma forma, só quis nos divertir com mais uma fabulosa música em que o lobo de bobo, quem sabe, nada tem. Mas não se assustem com os seus lobos maus, eles não comem ninguém. É só fuzarca.
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