É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho...
(Tom Jobim. Águas de março, 1972)
O leitor deve estar estranhando o título acima em relação à música de Tom Jobim, mas é isso mesmo. E eu vou explicar o motivo.
Nos últimos dez anos, ou talvez mais, o mês de março não tem sido visto como aquele que fecha o verão, embora, oficialmente, a estação do calor termine aos 21 dias desse terceiro mês do ano. O verão tem-se encerrado mesmo é no mês de maio, com muita chuva e chuva forte, diga-se de passagem. E se fizermos um pequeno diálogo entre a letra de Jobim e os últimos acontecimentos? Poderemos observar que, embora não tenha sido a intenção, há uma certa coincidência. Vejamos a sequência: pau, pedra, fim do caminho, toco.
Na mesma sequência: Árvores caídas nas ruas da cidade – refiro-me, especificamente a Salvador –, pedra que rola e mata nas encostas, chuva forte que abre fendas nas ruas e impede a passagem de carros e pedestres. Isso tudo acontecendo no fim do mês de abril e se intensificando em maio. Em Salvador, só nos primeiros dias de maio choveu forte e com uma intensidade fora do comum para a época. Por que estão acontecendo todas essas mudanças?
O clima do planeta vem mudando de forma muito mais rápida do que prevêem os estudos. A aceleração do aquecimento global está deixando cientistas perplexos, pois não eram esperadas tantas mudanças em tão curto espaço de tempo. Tantos fenômenos naturais acontecendo em regiões onde nunca dantes eram percebidos, assustam. Geleiras derretendo, tsunamis, abalos sísmicos violentíssimos, ciclones, tempestades e enchentes no nordeste e seca no sul do Brasil, acontecimentos que vão além da compreensão e, claro, das previsões.
De alguns anos para cá, alguém tem ouvido falar do evento da natureza conhecido como “maré de março”? Eu, faz algum tempo, não ouço com a ênfase de outrora. Quando garoto, começando a sair com os amigos para ir à praia – afinal, era uma das poucas opções, em termos de diversão que havia em Salvador–, ao chegar o mês de março, as mães sempre lembravam: “meninos, cuidado com a maré de março”. O mar ficava bravo e era muito perigoso tomar banho nessa época. A ressaca era violenta e a morte rondava os mais afobados.
Todos nós estamos contribuindo para tantas modificações climáticas, quando não respeitamos as coisas da natureza. É preciso uma tomada de consciência em prol de um mundo mais... humano (?). E ainda há tempo para modificar o atual cenário em que o mundo se encontra, com tantas catástrofes, bastando, para isso, tratar com mais atenção o nosso meio-ambiente, com menos poluição, maior economia de água, promover e contribuir para a reciclagem dos descartes que porventura possam ser reaproveitados, etc.
Será que o poeta, vivo estivesse, ao presenciar o que acontece hoje, o descaso com que é tratado o meio-ambiente e a “mudança das águas”, trocaria o título da música de “Águas de março” para “Águas de maio”? Sei não...
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